Existem alguns textos bíblicos que ouvimos e falamos com frequência, mas por muitas vezes são aplicados com um significado completamente diferente do propósito com que foram ditos. Não basta estar escrito nas Escrituras para que seja tomado como verdade, é necessário que seja analisado e aplicado no contexto correto, para que não sejam estabelecidos sofismas. Os sofismas são estruturas mentais, fortalezas que tem por alicerce uma ou mais mentiras maquiadas como verdades, e impedem que as pessoas alcancem o entendimento da verdade; são véus colocados sobre os olhos das pessoas fazendo com que fiquem cegas espiritualmente, não enxergando a verdade das Escrituras. Sobre esta cegueira o profeta Isaías traz uma palavra do Eterno:
[...] Ele disse: “Vá e diga a este povo: ‘Sim, vocês ouvem, mas não entendem. Com certeza veem, mas não chegam ao ponto principal’. Faça o coração deste povo ficar (lento como um) gordo, ensurdeça-lhes os ouvidos e feche os olhos deles. De outra forma, eles enxergariam com os olhos, escutariam com os ouvidos, entenderiam com o coração, poderiam se arrepender e seriam curados!” [...]. (ISAÍAS 6:9-10)
As parábolas são exemplos de textos que muita das vezes usamos fora do contexto, principalmente por não entendermos o que está sendo revelado por meio dela. Não digo que as parábolas possuem somente uma interpretação, até porque o Eterno pode ministrar Sua palavra em nossos corações de diferentes formas, mas existem duas situações: Existe um entendimento específico sobre a parábola, que foi o real propósito pelo qual ela foi dita naquele momento e para aquelas pessoas, e uma interpretação não pode contradizer nenhuma outra parte das Escrituras. Em meus livros e estudos, eu busco trazer o entendimento das parábolas relacionando motivo pelo qual elas foram ditas com o determinado grupo de pessoas a que foram direcionadas, as figuras de linguagens específicas e o contexto em que foram ditas. Uma das frases que ouvimos com frequência nas congregações é "O Diabo veio para matar, roubar e destruir", fazendo referência à parábola do salteador, escrita em João 10. Mas será que a parábola fala realmente sobre o Adversário? "Sim, eu lhes digo: quem não entra no recinto das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Mas quem entra pelo portão é o pastor das ovelhas. Esse é quem o porteiro admite, e as ovelhas ouvem sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora tudo o que lhe pertence, vai adiante delas; as ovelhas o seguem porque conhecem a voz. Mas nunca seguirão um estranho; na verdade, fugirão dele, porque a voz de estranhos não lhes é familiar" [...]. (JOÃO 10:1-5) Se acompanharmos o capítulo anterior, vemos que Yeshua (Jesus) estava advertindo alguns dos p'rushim (fariseus), dizendo que eles não eram cegos quanto ao entendimento da verdade, pois sabiam a cerca da vontade de Adonai, mas preferiam permanecer seguindo tradições humanas e conduzindo o povo para o descumprimento da vontade do Criador. Eles eram cegos apenas quanto ao entendimento da verdade e das revelações da vontade de Deus e do Seu plano para a humanidade, que apontaria para o reconhecimento do Messias. Nos versos seguintes, Yeshua dá mais informações sobre a parábola, pois eles não entenderam a maneira indireta pela qual ele falou. [...] "Sim, afirmo que eu sou o portão das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não lhes deram ouvidos. Eu sou o portão; se alguém entrar por mim estará seguro; entrará e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão vem apenas para matar, roubar e destruir; eu vim para que possam ter vida - vida em sentido pleno" [...]. (JOÃO 10:7-10) Nesta parábola, Yeshua estava falando para os p'rushim, que eram os líderes do povo, que Ele era o portão que conduziria à vida eterna e ao Reino, e que somente os profetas escolhidos por Adonai poderiam exercer o ofício de pastor, conduzindo a Casa de Ysra'el (Israel) ao Reino, pois Ele é o Porteiro e é Ele quem admite. Nem todas as ovelhas pertencem ao aprisco do Senhor, mas aquelas que pertencem, reconhecem a voz do pastor e se alimentam de seu pasto. O contexto da parábola não diz nada a respeito do Adversário e nem sobre suas obras. Por mais que o Adversário tente destruir a criação de Deus e se esforce em roubar as sementes da palavra, não é sobre isso que a parábola está dizendo. O ladrão deste texto não é o adversário, mas os p'rushim e líderes do povo. O ladrão é aquele que não passa pelo portão, que não tem a permissão do Eterno para cuidar das ovelhas, mas só querem roubar, matar e destruir, com o propósito de satisfazer as suas vontades. Os líderes do povo agiam desta forma desde a época dos profetas, e Yeshua os advertiu através da parábola usando a figura do ladrão. A Tanakh (livros da primeira aliança) possui muitas passagens, onde Adonai repreende os líderes de Yisra'el, que deveriam ser bons pastores mas só agiam como ladrões: "Ser humano, profetize contra os pastores de Yisra'el. Profetize! Diga aos pastores que Adonai Elohim diz o seguinte: 'Ai dos pastores de Yisra'el, que alimentam a si mesmos! Não deveriam os pastores alimentar as ovelhas? Vocês comem a carne escolhida, vestem-se com a lã e matam os melhores animais do rebanho; mas vocês não alimentam as ovelhas! Vocês não fortalecem a fraca, não curam a doente, não ligam a quebrada, não trazem de volta a desviada nem procuram a perdida; pelo contrário, vocês tiranizam com força destruidora. Assim, elas ficaram dispersas, sem um pastor, e tornaram-se alimento para os animais selvagens. Minhas ovelhas ficam vagando à toa pelas montanhas e colinas; sim, minhas ovelhas foram dispersas por toda a terra, sem que ninguém as procurasse ou delas cuidasse" [...]. (EZEQUIEL 34:2-6) Depois de diversas advertências, Adonai diz que levantaria um pastor que estivesse a cargo delas e que as alimentaria, dizendo que seria seu servo Davi, uma figura que representa o Messias. Este pastor seria o um príncipe entre elas, fazendo uma aliança de paz com elas, como diz nos versos 23 a 30 de Ezequiel 34. Existem muitas outras passagens que falam da liderança de Yisra'el como sendo pastores que não cuidavam das ovelhas e que o próprio Deus iria remove-los e tratar deles pessoalmente, retirando deles a permissão de conduzir seu rebanho, como em Jeremias 31:1-2 e 50:6-7. Yeshua é o portão que conduz à vida, ou seja, à presença de Adonai. Somente aqueles que pertencem a Ele reconhecerá voz do pastor, que é aquele que fala de acordo com a vontade do Senhor. Infelizmente, existem certas semelhanças com as lideranças do povo de Deus até os dias de hoje, que agem como ladrões ao invés de agirem como pastores, mas o mais importante é buscarmos sermos ovelhas do aprisco do Criador, pois desta forma encontraremos descanso e pastagem através do portão que nos conduz à vida, e teremos um pastor que seja conduzido pelo Criador! Que Adonai abençoe a todos! Shalom